O MENINO E SUA MÃE NO COLO
Descansa no meu colo a tua cabeça de mulher
Deixa que eu seja o teu pai ainda que por um instante
Vivamos o parto às avessas
Eu que sou o teu filho
Por hora quero ser o teu pai
Só pra ter o prazer de te ver menina
Tão cheia de sonhos
Só pra puxar os teus cabelos
E neles colocar laços bordados de alegrias
Cores de tempos antigos, distantes
Quando nem imaginavas que eu seria o teu filho
Vem aqui, fica quietinha
Permita que eu cuide das tuas coisas,
De teu guarda roupa tão cheio de desordens
Não importa
O remédio eu te trarei, o teu alimento eu plantarei
E ajeitarei o teu travesseiro de um jeito que gostes
Só pra descobrir a alegria de reverter os poderes do tempo
E poder inverter a ordem dos fatos
Só pra ter a graça de te chamar de minha filha,
Minha menina, minha mãe
Só pra ter a graça de evitar os teus choros futuros
Tuas dores constantes, teus medos tão delicados
Medo de me perder, de que eu morra antes da hora
De que não estejas por perto no momento em que eu precisar de tua mão
Como no passado, quando me conduzias contigo
Como se fossemos um só
Um nó de gente, amarrado e costurado no amor do sobrado de teu peito
Um amor que Deus esqueceu no mundo
E que eu vi de perto, refletido nos teus olhos
Quando a vida nos apresentava motivos para perder a esperança
Óh! Minha mãe
Que saudade eu sinto de nós dois juntos
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